A força da fé e da religiosidade popular segue viva nas tradições do Cariri cearense, sendo constantemente reafirmada por meio de manifestações culturais e memoriais. Um dos maiores símbolos dessa religiosidade é a Beata Maria de Araújo, figura central do chamado milagre da hóstia, cuja história ainda mobiliza fé, luta e resistência. Em reconhecimento à sua importância, o Complexo Ambiental Caminhos do Horto realiza, de 21 a 25 de maio, a 2ª Semana Beata Maria de Araújo, com atividades gratuitas e abertas ao público.
A iniciativa conta com o apoio da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema Ceará), do Instituto Dragão do Mar (IDM) e do Movimento Pró-memória da Beata Maria de Araújo. A programação inclui rodas de conversa, apresentações culturais, espetáculos teatrais, literatura de cordel, música e partilha de alimentos — tudo em torno da história e do legado de Maria de Araújo, exaltando a fé, a ancestralidade e a resistência popular.
A abertura acontece na quarta-feira (21), com a “Expo Beata”, uma mostra de figurinos inspirados na trajetória da beata, criados pelo artista Arthur Leovegildo, com orientação de Cleo do Vale. A exposição estará disponível até o domingo (25), na Estação Monsenhor Murilo de Sá Barreto, local de acesso ao teleférico do Horto, das 9h às 17h.
Ainda no dia 21, das 16h às 18h, haverá uma roda de conversa na Escola Sebastião Teixeira Lima, no Horto, com o tema “Beata Maria de Araújo: memória, fé e justiça”. O encontro busca refletir sobre o silenciamento histórico da figura feminina e negra da Beata, hoje ressignificada como símbolo de luta e devoção. A mediação será de Maria das Dores (Dorinha), com participações de Dona Mazé, do Movimento Popular Pró-Beata, e Dona Dorinha dos Benditos.
Na quinta-feira (22), a Escola Alaíde Silva Santos recebe o espetáculo “Maria de Araújo e o Milagre de Juazeiro do Norte”, com Rafa Moraes. A peça será apresentada às 19h e propõe uma abordagem poética e crítica sobre a vida da beata, evidenciando as tensões entre o sagrado e o político, especialmente no que diz respeito à mulher negra no imaginário popular do Cariri.
O encerramento da programação será no sábado (24), com uma celebração comunitária na Praça Beata Maria de Araújo, das 16h às 20h. O evento integra a edição de maio do projeto Caminhos Culturais, com o tema “Semente, Partilha e Colheita”, em parceria com o Movimento Pró-Beata.
A programação começa com falas institucionais e segue com a apresentação musical de Sol Maria, declamações do projeto IX Poemas para Maria, além do lançamento do cordel “A Mártir do Joazeiro”, de Mauro Matos. Às 18h, o Reisado Beata Maria de Araújo fará uma apresentação especial, encerrando com a tradicional partilha de alimentos e os “parabéns” à beata, em um gesto simbólico de união, memória e afeto.
Quem foi a Beata Maria de Araújo
Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, conhecida como Beata Maria de Araújo, foi protagonista do episódio conhecido como “milagre da hóstia”, ocorrido em 1º de março de 1889, quando, ao receber a comunhão das mãos do Padre Cícero, a hóstia teria sangrado em sua boca.
Nascida em Joaseiro, era uma mulher negra, sertaneja e analfabeta. Sua figura foi central para a consolidação das romarias em Juazeiro do Norte e, por consequência, para a emancipação e desenvolvimento do município. Maria de Araújo faleceu em 17 de janeiro de 1914. Embora o Padre Cícero tenha ordenado que fosse sepultada na Capela do Socorro, seu túmulo foi violado e destruído em 1930. Os restos mortais da beata nunca foram encontrados.
Hoje, um túmulo simbólico existe para que os fiéis possam prestar homenagens, mantendo viva a memória de uma das figuras mais emblemáticas da religiosidade popular nordestina.
